A Líbia situa-se ao Norte de África, banhada pelo Mar Mediterrâneo e ladeado pelo Egito e pela Tunísia.
Embalada pela Tunísia e Egito, população se revolta contra o truculento regime de Gaddafi
O presidente da Líbia, Muammar Gaddafi, completou 41 anos no poder no último 16 de janeiro, no mesmo mês em que os governos do mundo árabe sacudiram ao ver a queda do ditador Zine el Abidine ben Ali, da Tunísia.
Na lista dos próximos governantes ameaçados pela onda revolucionária, Gaddafi vê agora várias cidades líbias, entre elas Benghazi e Syrta, tomada por manifestantes descontentes com seu reinado truculento de quatro
décadas, sem o respeito da Constituição e liberdades fundamentais.
Para piorar, segundo relatos não confirmados, um dos principais quartéis das forças do governo está nas mãos dos manifestantes, depois que um comandante do Exército passou para o lado da oposição.
Segundo o correspondente da BBC para o Oriente Médio, Jon Leyne, os atuais protestos na Líbia são os maiores até hoje contra Gaddafi. Apesar disso, eles se concentram na região leste do país, onde a popularidade do líder líbio é tradicionalmente mais baixa.
Violência marca a resposta do governo
Como era de se esperar do governante que já foi chamado "cachorro louco do Oriente Médio" pelo ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan (1981-1989), a resposta de Gaddafi vem acompanhada de violência e decisões arbitrárias.
A Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) antecipou um balanço de 300 a 400 mortos desde o início da rebelião, em 15 de fevereiro. Já a ONG humanitária
Human Rights Watch informa que 233 pessoas morreram na repressão aos protestos antirregime.
Saif al Islam Gaddafi, filho de Gaddafi, afirmou em entrevista à televisão, nesta segunda-feira (21), que os número são exagerados e que a
Líbia está à beira da guerra civil. Para ele, a violência é resultado de um "complô estrangeiro".
O apoio ao governo enfraqueceu ainda mais com a decisão de vários diplomatas líbios no exterior em renunciar a seus cargos, insatisfeitos com a maneira como o líder reagiu à onda de protestos.
Gaddafi tem passado golpista e controverso
Desde que assumiu o cargo de primeiro-ministro do país, em 16 de janeiro de 1970, quatro meses depois de dar um golpe militar, Muammar Gaddafi já foi chamado de maluco e herói, de terrorista e revolucionário.
Sua ditadura apoiou organizações terroristas como o Setembro Negro, que assassinou atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique, em 1972, e o grupo basco ETA, acusado de dezenas de atentados na Espanha.
Gaddafi também se recusou a extraditar o terrorista líbio Abdel Basset al Megrahi, que em 1988 plantou uma bomba em um avião jumbo da Pan Am que explodiu sobre a Escócia, matando 270 pessoas. O fato rendeu à Líbia uma série de sanções da ONU, mas angariou ainda mais seguidores radicais para Gaddafi.
Porém, nos primeiros anos da década de 90, Gaddafi começou a mudar de lado. Passou a ser intolerante com fundamentalistas islâmicos, livrou-se de suas armas de destruição em massa e pagou indenizações às vítimas do atentado ao jumbo da Pan Am.
Finalmente, em 2003, o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, retirou a Líbia da lista de países ligados ao terrorismo.
Líbio prepara terreno para fazer seu sucessor
A linha "Gaddafi paz e amor", apontaram especialistas, foi estrategicamente adotada pensando em uma possível sucessão. O nome natural é do filho Saif El Gaddafi, considerado o principal responsável reviravolta política da Líbia.
Saif já chegou a admitir, respondendo a contragosto a perguntas feitas pelo
R7 em março do ano passado, que
o regime do pai não é uma "democracia de verdade", mas veio em sua defesa nos atuais protestos – vendo a sua própria carreira no governo ameaçada.
Com o dedo
indicador apontado em clima de ameaça, o pupilo prometeu “lutar até o fim” contra os protestos, e acrescentou que a Líbia
“não é a Tunísia ou o Egito”.
País é o quarto produtor de petróleo na África
A Líbia é membro da Organização de Países Produtores de Petróleo (Opep) e o quarto produtor de petróleo da África, depois da Nigéria, Argélia e Angola, com cerca de 1,8 milhão de barris diários.
O país exporta a maior parte de seu petróleo aos países da Europa, entre eles a Itália, Alemanha, Espanha e França. Agora, quer desenvolver sua produção de gás natural, setor no qual tem reservas estimadas em 1,540 trilhão de m3, segundo a Opep.